Visitar uma das sedes da única Copa do Mundo realizada na terra onde o esporte foi inventado tem seu charme imediato. Saber que este estádio é o que mais jogos recebeu da divisão principal do Campeonato Inglês, sem contar finais de Copa da Inglaterra, e que, ainda por cima, preserva características clássicas dos seus mais de cem anos de existência tornam a ida ao Goodison Park, o estádio do Everton, em Liverpool, uma experiência única.
Construído em 1892, Goodison Park fica em uma área residencial de Liverpool, Walton, muito bem servida pelo transporte público local, a cerca de 3 quilômetros da área central da cidade, de onde eu saí, de ônibus, com a expectativa (concretizada!) de conseguir ingressos para o jogo entre Everton e Sheffield United, pela Carling Cup, vencida pelos donos da casa por 3 a 1. Os tíquetes estavam disponíveis por 15 libras e, ao saber que se tratava de um brasileiro, o vendedor quis agradar e foi muito simpático ao me oferecer uma daquelas cadeiras a poucos metros do gramado, o que tornou mais bacana ainda a experiência de assistir a um jogo no local - e de forma bem inglesa.
A região ao redor do estádio é super agradável, o cenário é típico de uma cidade industrial inglesa e não tive como conter minha satisfação ao ver de perto o estádio, circundado por uma linha do tempo sensacional, com fotos históricas e textos que explicam os vários momentos da trajetória do Everton, um clube mais do que tradicional, na divisão de elite inglesa initerruptamente desde 1954 e que ficou fora dela poucas vezes (1930/1931 e entre 1951 a 1954), número superior a de todos os demais poderosos clubes do país. Logo, é o estádio que mais jogos recebeu da divisão principal do Campeonato Inglês, sem contar as finais de Copa da Inglaterra, entre elas a de 1894, que terminou com a vitória do Preston North End.
Com capacidade para 40.157 pessoas, todas sentadas, Goodison Park se tornou a casa do Everton depois de o clube passar por um campo perto de Stanley Park, para onde o rival local Liverpool pretende se mudar, e em Anfield. Isso mesmo, o Everton mandava jogos no mítico estádio do Liverpool - na prática, pagava um alguel para jogar lá, não concordou com os aumentos e deixou de jogar no local. Um dos donos de Anfield, John Houlding, fundaria o Liverpool em 1892 e o estádio passaria a ser uma das maiores marcas do rival do Everton. Porém, como fundador da Football League e campeão nacional em 1890/1891, o Everton foi o primeiro clube a comemorar um título inglês em Anfield, local onde foi um dos primeiros a introduzir, na história do futebol, as redes acopladas às traves. Tempos mais tarde, um placar, outra inovação do clube, passou a fazer parte do cenário de Goodison Park.
O estádio preserva partes antigas, o que o torna ainda mais interessante. As entradas, estreitas, as paredes com os tijolos à mostra e as antigas cadeiras de madeira ainda marcam presença. Mais uma vez, o cuidado extremo com o gramado, o programa do jogo e todos os detalhes que cercam um jogo na Inglaterra foram evidenciados. Em um lugar especial como esse, a sensação de ver um jogo é mais espetacular ainda.
Como vários estádios ingleses, Goodison Park foi sendo construído em "fatias" e em várias etapas até atingir seu formato atual e, como todos, reduziu bastante sua capacidade com o passar dos anos. O recorde de público é de um clássico local contra o Liverpool, em setembro de 1948, com 78.299 pessoas, praticamente o dobro da atual capacidade. Como aconteceu com o estádio Old Trafford, na vizinha Manchester, Goodison Park foi bombardeado na Segunda Guerra Mundial.
Outra característica marcante do estádio é a memória, preservada na estátua de Dixie Dean, que fica próxima a uma das bilheterias. Ídolo do clube, pelo qual jogou entre 1925 e 1937, Dean era torcedor do Everton e um dos maiores artilheiros da história do futebol inglês. É dele o recorde de gols em uma única temporada, com incríveis 60 em 1927/1928. Pelo Everton, fez 349 gols em 399 jogos. Pela Seleção Inglesa, marcou 18 vezes em 16 partidas.
A atmosfera que cerca um simples jogo de Carling Cup é muito bacana, assim como a reação dos torecedores, o conforto e a visão privilegiada dos espectadores. De onde vi o jogo, era perceptível o som que a bola fazia ao tocar a grama e até mesmo as vozes dos jogadores. Neste vídeo abaixo, um pequeno trecho do jogo, através do qual dá para perceber exatamente a visão que eu tinha da partida e detalhes do belo placar eletrônico do estádio.
Goodison Park está na história. É o único estádio de clube inglês a receber uma semifinal de Copa do Mundo, o jogo entre Alemanha Ocidental e União Soviética, em 1966. Tão importante que sediou, naquele Mundial, jogos da então seleção bicampeã mundial, o Brasil. E mais: foi palco de um dos jogos mais espetaculares de toda a história das Copas, os 5 a 3 de virada de Portugal contra a Coréia do Norte, com quatro gols de Eusébio. Precisava de mais alguma coisa? Nem tanto, mas foi em Goodison Park que Pelé e Garrincha atuaram juntos pela última vez com a camisa da Seleção Brasileira, na vitória de 2 a 0 sobre a Bulgária, estréia brasileira na Copa. Goodison Park merecia isso.
Confira os outros capítulos da série
Capítulo 1 - Craven Cottage, o estádio do Fulham
Capítulo 2 - No Notts County, o clube mais antigo da Inglaterra
Capítulo 3 - Nottingham Forest e o City Ground
Capítulo 4 - Leyton Orient e seu Matchroom Stadium
Capítulo 5 - Wembley, capital mundial do futebolCapítulo 7 - Vendo um jogo da Champions League no Emirates
Capítulo 8 - Onde a FA foi fundada e as regras do futebol, unificadas
Capítulo 9 - Stamford Bridge, um senhor de 135 anos de idade
Capítulo 10 - Old Trafford, o teatro dos Sonhos
Capítulo 11 - Carling Cup em Loftus Road, o estádio do QPR
O estádio preserva partes antigas, o que o torna ainda mais interessante. As entradas, estreitas, as paredes com os tijolos à mostra e as antigas cadeiras de madeira ainda marcam presença. Mais uma vez, o cuidado extremo com o gramado, o programa do jogo e todos os detalhes que cercam um jogo na Inglaterra foram evidenciados. Em um lugar especial como esse, a sensação de ver um jogo é mais espetacular ainda.
Como vários estádios ingleses, Goodison Park foi sendo construído em "fatias" e em várias etapas até atingir seu formato atual e, como todos, reduziu bastante sua capacidade com o passar dos anos. O recorde de público é de um clássico local contra o Liverpool, em setembro de 1948, com 78.299 pessoas, praticamente o dobro da atual capacidade. Como aconteceu com o estádio Old Trafford, na vizinha Manchester, Goodison Park foi bombardeado na Segunda Guerra Mundial.
Outra característica marcante do estádio é a memória, preservada na estátua de Dixie Dean, que fica próxima a uma das bilheterias. Ídolo do clube, pelo qual jogou entre 1925 e 1937, Dean era torcedor do Everton e um dos maiores artilheiros da história do futebol inglês. É dele o recorde de gols em uma única temporada, com incríveis 60 em 1927/1928. Pelo Everton, fez 349 gols em 399 jogos. Pela Seleção Inglesa, marcou 18 vezes em 16 partidas.
Estátua de Dixie Dean: memória do artilheiro preservada
A atmosfera que cerca um simples jogo de Carling Cup é muito bacana, assim como a reação dos torecedores, o conforto e a visão privilegiada dos espectadores. De onde vi o jogo, era perceptível o som que a bola fazia ao tocar a grama e até mesmo as vozes dos jogadores. Neste vídeo abaixo, um pequeno trecho do jogo, através do qual dá para perceber exatamente a visão que eu tinha da partida e detalhes do belo placar eletrônico do estádio.
Goodison Park está na história. É o único estádio de clube inglês a receber uma semifinal de Copa do Mundo, o jogo entre Alemanha Ocidental e União Soviética, em 1966. Tão importante que sediou, naquele Mundial, jogos da então seleção bicampeã mundial, o Brasil. E mais: foi palco de um dos jogos mais espetaculares de toda a história das Copas, os 5 a 3 de virada de Portugal contra a Coréia do Norte, com quatro gols de Eusébio. Precisava de mais alguma coisa? Nem tanto, mas foi em Goodison Park que Pelé e Garrincha atuaram juntos pela última vez com a camisa da Seleção Brasileira, na vitória de 2 a 0 sobre a Bulgária, estréia brasileira na Copa. Goodison Park merecia isso.
Confira os outros capítulos da série
Capítulo 1 - Craven Cottage, o estádio do Fulham
Capítulo 2 - No Notts County, o clube mais antigo da Inglaterra
Capítulo 3 - Nottingham Forest e o City Ground
Capítulo 4 - Leyton Orient e seu Matchroom Stadium
Capítulo 5 - Wembley, capital mundial do futebolCapítulo 7 - Vendo um jogo da Champions League no Emirates
Capítulo 8 - Onde a FA foi fundada e as regras do futebol, unificadas
Capítulo 9 - Stamford Bridge, um senhor de 135 anos de idade
Capítulo 10 - Old Trafford, o teatro dos Sonhos
Capítulo 11 - Carling Cup em Loftus Road, o estádio do QPR
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