Futebol na Terra da Rainha - Capítulo 1 - Craven Cottage

O blog volta a publicar, a partir de hoje, com mais fotos e detalhes a série Futebol na Terra da Rainha, que mostrou, em 25 capítulos publicados entre 2011 e 2012, estádios, museus, pubs temáticos e lojas de clubes ingleses. Entre os temas, mostro também como é ver um jogo de futebol na Inglaterra, se deslocar até os estádios, organização, compra de ingressos e afins. Tudo com o tempero e a paixão que faz da Inglaterra uma nação absolutamente obcecada com o futebol. Com a reedição da série, atendo vários pedidos de leitores que gostariam de ver mais detalhes e apresento a outros que ficaram sabendo da publicação mas não a acessaram. Para começar, eis o estádio do Fulham, o Craven Cottage, em Londres!

Estádio preserva as cadeiras mais antigas, acima, colocadas no início do século passado

Construído no século 19, o estádio tem vários detalhes que lhe conferem um charme especial

Para começar a série, escolhi um dos estádios mais charmosos que já visitei e que tem o estilo consagrado do que seria um tradicional campo de futebol inglês. O Craven Cottage, do Fulham, foi construído em 1896, sete anos depois da fundação do clube. Hoje, com capacidade para receber 25.700 pessoas, todas sentadas, já chegou a abrigar 49 mil pessoas em 1938.

O ídolo Heynes dá nome ao setor de arquibancadas à esquerda

Apesar de relativamente acanhado, o estádio é muito agradável, desde o trajeto feito a partir da estação de metrô Putney Bridge, que fica a 15 minutos de caminhada por um parque, até as arquibancadas, que misturam cadeiras antigas, de madeira, com as atuais.

Detalhe do trecho entre o metrô e o estádio. Um parque, seguro, limpo e agradável

A visão que se tem do gramado é impressionante. Na foto abaixo, registrei o que seria a visão de um privilegiado espectador sentado na primeira fileira.

Vista privilegiada do espectador que se senta na primeira cadeira

O pavilhão, no fundo da foto, entre os dois lances de arquibancadas. De pé desde 1905

O que pode ser percebido de cara é o impressionante cuidado que se tem com o gramado, que é realmente impecável. Como é praxe nos gramados ingleses, uma série de funcionários fica por conta de manter o campo de jogo aparado, nivelado e mais do que em condições para receber craques do porte de Rooney, Lampard, Aguero e outras feras que jogam no Campeonato Inglês. Não importa se é véspera de jogo ou não, sempre vai ter alguém ajustando o gramado, por mais que você sempre vá imaginar que não precisa de mexer em nada. A limpeza de todos os cantos do estádio também chama a atenção.

A qualidade do gramado e a perfeita visão do campo impressionam

Vejam a distância das cadeiras para o gramado e o cuidado com o campo de jogo

Como é fácil de perceber - e não é novidade para ninguém - não existem alambrados, telas, proteção plástica ou afins para separar o torcedor do gramado. A relação de respeito e, claro, a exata noção de punição em caso de invasão de campo ou de qualquer outra irregularidade, permite com que as normas sejam seguidas à risca.

Entrada dos visitantes no estádio

A visita já teria valido a pena por si só, mas o Fulham ainda oferece, em um café super simpático, um lanche para aqueles que vão ao Craven Cottage. Sensacional. Tudo isso combinado com um vizinho ilustre, o rio Tâmisa, que literalmente margeia o estádio. Um bicão de um zagueiro pode fazer a bola nadar no tradicional rio inglês sem muito esforço.

Detalhe da sala onde é oferecido um café aos visitantes e a fachada do estádio (acima)

Detalhe da tranquilidade da rua onde fica o estádio do Fulham

O estádio é espetacular, mas algo, que sempre ficou escondido em um cantinho do Craven Cottage, nunca foi muito apreciado pelos fãs do Fulham. Uma bizarra estátua de Michael Jackson, pertencente ao dono do clube, Mohamed Al-Fayed, foi instalada lá após ser transferida da loja do egípicio, a tradicional Harrods - Al-Fayed, inclusive, era amigo do cantor norte-americano. Michael visitou o estádio em 2009 e elogiou os torcedores do clube, os associando aos seus fãs em concertos. "Eu quero pular e começar a dançar", teria dito. Em 2013, Al-Fayed decidiu que iria colocar a estátua em outro local de sua propriedade.

Detalhes das charmosas entradas de torcedores na Stevenage Road

A foto abaixo mostra que a estátua do ídolo pop estava bem escondida. Aliás, a minha surpresa não foi pequena quando, ao perguntar se era possível fazer uma visita ao estádio, a funcionária do clube me informou que não tinha nada programado, mas que tinha a possibilidade de entrar no Craven Cottage para.... ver a estátua!!!!

Detalhe da área de camarotes no estádio, bem perto de onde estava Michael Jackson (acima)

A homenagem, exótica, rendeu o passeio que custou 5 libras, que passou pelas arquibancadas que ficam atrás do gol à esquerda das cabines de TV para chegar ao, digamos, monumento... Nada a ver com futebol e, sinceramente, perda de tempo. O estádio é muito mais legal.

John Haynes, jogador histórico do clube, imortalizado na entrada do estádio

Aliás, uma homenagem muito, mais muito mais legal e merecida, é feita a John Haynes, que tem essa bela estátua registrada na foto acima - e sem chance de ir para qualquer outro local. Haynes jogou no Fulham entre 1951 e 1970, fez 658 jogos pelo clube e 158 gols (é quem mais defendeu o clube e o segundo maior artilheiro, atrás apenas de Gordon Davies, que fez 178). Nascido em Londres, Haynes, que morreu aos 71 anos na capital inglesa, em 2005, dá nome a um dos trechos de arquibancadas do estádio. Mesmo defendendo o Fulham várias vezes na segunda divisão, Haynes defendeu a Inglaterra em 56 partidas, 22 delas como capitão - marcou 18 gols. Elogiado por Pelé, que se referiu ao meia como o "melhor passador que já viu", Heynes foi o primeiro jogador a receber 100 libras semanais, em 1961. O jogador enfrentou o Brasil na Copa de 1962, no Chile. A homenagem no estádio prova o tanto que os ingleses se importam com a memória, fato que eu veria muitas outras vezes nas minhas visitas.

Tive a sorte de conseguir registrar, do avião, uma foto do estádio, à beira do rio Tâmisa

Veja os outros capítulos da série:
Capítulo 2 - Meadow Lane, o estádio do Notts County
Capítulo 3 - City Ground, a casa do Nottingham Forest
Capítulo 4 - O Leyton Orient e o Matchroom Stadium
Capítulo 5 - Wembley, capital mundial do futebol
Capítulo 6 - This is Anfield. O estádio mítico do Liverpool
Capítulo 7 - Vendo a Champions League no Emirates
Capítulo 8 - Onde a FA foi fundada e as regras do futebol, unificadas
Capítulo 9 - Stamford Bridge, um senhor de mais de 135 anos de idade
Capítulo 10 - Old Trafford, o teatro dos sonhos
Capítulo 11 - Copa da Liga Inglesa no Loftus Road, do QPR
Capítulo 12 - Goodison Park e suas únicas histórias

Capítulo 13 - Alessandro Shoenmaker, o preparador físico brasileiro do Nottingam Forest 
Capítulo 14 - Na casa do Manchester City
Capítulo 15 - Museu do Liverpool

Capítulo 16 - Museu do Arsenal

Capítulo 17 - Museu do Chelsea

Capítulo 18 - Museu do Manchester United

Capítulo 19 - Por dentro do Emirates Stadium

Capítulo 20 - No CT do Nottingham Forest 
Capítulo 21 - Um passeio por Upton Park

Capítulo 22 - Futebol e pubs na Inglaterra

Capítulo 23 - Vendo um jogo da Premier League em Stamford Bridge

Capítulo 24 - Highbury, antes e depois
Capítulo 25 - Uma homenagem a Bob Paisley