Futebol na Terra da Rainha - Capítulo 10 - Old Trafford, o teatro dos sonhos


Poucos lugares no mundo do futebol conseguem reunir em um só espaço a grandiosidade do esporte, a memória latente, respeitada, homenageada e preservada, a tradição perpetuada e construída a cada dia e aspectos que sempre deveriam ser valorizados, como a organização primorosa, o espaço aos fãs, a segurança e os cuidados com quem visita, consome, vive e é louco por um clube de futebol. O Old Trafford, estádio do Manchester United, consegue reunir tudo isso. É um daqueles locais em que cada canto é precioso e que é preciso se beliscar para acreditar quando você realmente está lá.

O Theatre of Dreams em três ângulos diferentes. Acima, na arquibancada superior,...

.... uma visão do escanteio à direita das câmeras de TV

.... e um ângulo do Stretford End

Maior estádio da Premier League (capacidade para 76.022 torcedores), bombardeado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, palco de final de Champions League e de jogos da Copa do Mundo (1966) e da Eurocopa (1996). Fatos esportivos e históricos formam o alicerce de Old Trafford, apelidado justamente de "Teatro dos Sonhos" por Bobby Charlton. O meia inglês, campeão do mundo em 1966 pela Inglaterra e peça fundamental na conquista da Copa dos Campeões da Europa de 1968 pelo Manchester United, dá uma espécie de boas vindas aos visitantes ao lado de dois outros ídolos eternos, Dennis Law e George Best, a santíssima trindade gravada em uma estátua que parece reverenciar o estádio logo em sua entrada. De cara, do lado de fora, uma referência histórica e uma marca de respeito.

George Best, Dennis Law e Bobby Charlton, de frente para o Old Trafford: ídolos preservados

Sir Matt Busby, histórico técnico do Manchester United, também homenageado com uma estátua na entrada do estádio

Ainda estupefato com o que estava vendo, me deparei, também do lado de fora do estádio, com o relógio que homenageia os mortos no acidente em Munique, que vitimou parte de uma geração talentosa do clube em 6 de fevereiro de 1958. O relógio marca a hora exata do acidente e uma foto e um quadro com os nomes das vítimas estão cravados na parede. São respeitados com uma reverência de assustar. Ao lado, um espetacular túnel, que fica abaixo de um dos setores de arquibancada do estádio, traz fotos, dados e mais homenagem aos Busby Babes, referência aos jovens jogadores comandados pelo então técnico Matt Busby, que também tem uma estátua na frente do estádio e dá nome à rua onde fica Old Trafford.

O relógio com a data e o horário do acidente em Munique...
... e a homenagem ao time e às vítimas do acidente. Reverência na fachada do estádio

Inaugurado em 1910 e desde sempre a casa do Manchester United, Old Trafford, que fica na região de mesmo nome, na Grande Manchester, pode ser facilmente acessado a partir do centro da cidade, em viagens simples de ônibus. Os Red Devils só não jogaram ali entre 1941 e 1949, tempo entre os ataques nazistas na Segunda Guerra e a reforma do estádio. Nesse tempo, a casa do United foi o antigo estádio do rival City, Maine Road. Hoje, muito pouco do estádio original ainda está de pé, incluindo aí os bancos de reservas.

O muro que sustenta o banco de reservas: o antigo pedaço preservado desde sempre, enquanto...

.... a entrada para o museu e para o resturante é das mais modernas possíveis

A concorrida entrada para uma visita ao estádio se justifica. Para começar, uma escada rolante que leva ao museu (que vai merecer um post exclusivo em breve) contrasta de forma elegante o moderno com o antigo, tudo sempre adornado em vermelho e sempre com um escudo do United por perto. Próximo ao museu, a lanchonete e o restaurante do estádio, onde almocei olhando para todos os lados, desde as cadeiras que trazem nas costas números de camisas de jogadores atuais e históricos, passando pelo prato com o escudo do clube e pelas TVs que passavam programas especiais (um deles lembrava os confrontos contra o Arsenal, já que no dia seguinte, aconteceria o clássico que terminaria com a goleada de 8 a 2 para o Manchester United).

Até mesmo no restaurante as referências ao clube são expostas abertamente
Setor de bares no estádio: limpeza e organização que impressionam

Os espaçosos, limpos e organizados setores de bares do estádio já criaram a expectativa do que eu iria visitar na parte interna. A chegada aos vestiários é muito cuidada e os espaços dedicados aos jogadores estupendos. A chegada ao vestiário do Manchester é precedida por uma sala encarpetada, com cadeiras confortáveis e que apresenta um quadro com os nomes e jogos de todos os jogadores que defenderam suas respectivas seleções nacionais quando estavam a serviço do Manchester United. Outro setor do estádio que lembra as nacionalidades de quem veste a camisa do clube está acima das arquibancadas, onde uma bandeira de cada país com algum jogador atualmente no clube tremula.


A impressionante entrada para o vestiário do Manchester United

Pouco antes de chegar ao vestiário, esse quadro mostra números de todos os jogadores do clube em suas seleções nacionais

O vestiário é exemplar, organizado e com estrutura de primeiro nível. Vendo as camisas penduradas, não é difícil imaginar quantos craques já passaram por ali. De Booby Charlton a Beckham, de Best a Rooney, de Law a Giggs, passando por Cantona, Cristiano Ronaldo, Ferdinand e tantos outros. Só quem não quer saber de futebol passa batido em um lugar desses.

Um vestiário de primeiro nível para a série de craques que costuma andar pelo local

O contato com a história é tão forte que mesmo no caminho do vestiário para o gramado, o clube faz questão de mostrar em qual lugar os jogadores estão pisando. Grandes quadros com fotos históricas e informações de cada campeonato conquistado mostram os títulos do clube, uma aula de história.

No caminho para o gramado, quadros com conquistas do clube, como a Premier League de 1999/2000
Chegando ao túnel de acesso ao gramado de Old Trafford

No túnel, a poucos metros do gramado e colado nas arquibancadas: só quem é de pedra para não sentir nenhuma emoção

Chegar ao gramado de Old Trafford é pisar em um santuário do futebol mundial. É ter, em dobro, aquela sensação que sentimos no vestiário. É imaginar que craques da prateleira mais alta do futebol do planeta fizeram obras de arte no gramado impecável, vibraram com torcedores que acompanham os jogos bem perto de seus ídolos e disputaram partidas inesquecíveis. Enfim, é estar dentro de um dos maiores templos do futebol mundial.

P.S: Este não será o único post desta série destinado ao Manchester United. Em breve, novidades!

Confira os outros capítulos da série
Capítulo 1 - Craven Cottage, o estádio do Fulham
Capítulo 2 - No Notts County, o clube mais antigo da Inglaterra
Capítulo 3 - Nottingham Forest e o City Ground
Capítulo 4 - Leyton Orient e seu Matchroom Stadium
Capítulo 5 - Wembley, capital mundial do futebolCapítulo 7 - Vendo um jogo da Champions League no Emirates
Capítulo 8 - Onde a FA foi fundada e as regras do futebol, unificadas
Capítulo 9 - Stamford Bridge, um senhor de 135 anos de idade
Capítulo 11 - Carling Cup no Loftus Road, do QPR
Capítulo 12 - Goodison Park e suas únicas histórias
Capítulo 13 - Alessandro Shoenmaker, o preparador físico brasileiro do Nottingam Forest
Capítulo 14 - Na casa do Manchester City
Capítulo 15 - Museu do Liverpool
Capítulo 16 - Museu do Arsenal



Comentários

  1. Muito legal a série do Futebol na Terra da Rainha, Frederico.
    Só agora tô tendo um tempo para ler todos os posts. Parabéns, belo trabalho.
    João Ricardo, do FutPopClube.com

    ResponderExcluir
  2. Meu sonho era de visitar a Inglaterra principalmente o Old Trafford !
    Quanto que custa uma viagem dessa : Fazer uma visita pelo estádio ou ver um jogo...

    Grato e muito Parabéns para você e sua equipe !

    ResponderExcluir

Postar um comentário