Os desafios de Micale no Galo e o balanço da "Era Roger"


Rogério Micale foi confirmado hoje como técnico do Atlético - pelo menos até o final do ano. Chega com a credencial de conhecer bem a base alvinegra. Exceto por um pequeno intervalo, em 2011, quando dirigiu o Grêmio Prudente, Micale ficou no clube de 2009 a 2015 e saiu para assumir a Seleção Brasileira sub-20, com a qual, reforçada por Neymar, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio. Conhece o clube e muitos dos jogadores revelados na Cidade do Galo que estão sendo utilizados entre os profissionais.

Micale, de 48 anos, conquistou a medalha de ouro olímpica pela seleção brasileira em 2016 (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Micale, que venceu a Copa São Paulo com o Figueirense em 2008, conquistou, entre outros títulos, duas Taças BH e dois estaduais com as categorias de base do Galo. Deixou a CBF quando terminou apenas em quinto lugar no Sul-Americano sub-20, em fevereiro deste ano. Vai encarar um desafio de peso e dirigir uma equipe com jogadores de qualidade, apontada no início do Brasileirão como candidata ao título, mas que no momento está em um decepcionante 11º lugar.

Terá de cara duas decisões. Primeiro, joga por um empate contra o Botafogo na quarta da semana seguinte para garantir uma vaga na semifinal da Copa do Brasil. No dia 9 de agosto, precisa vencer o Jorge Wilstermann, da Bolívia, para chegar às quartas de final da Copa Libertadores. As duas competições são as reais chances de títulos neste segundo semestre para o Galo. Terá que motivar o grupo e criar uma alternativa de jogo eficiente especialmente em casa - o time perdeu quatro dos seus oito jogos no Independência no Brasileirão

Logo após o anúncio oficial, pelo o que acompanhei, a maioria dos torcedores criticou a escolha pelas redes sociais - talvez até pela pouca bagagem de Micale à frente de uma equipe profissional. Para o torcedor atleticano, porém, não vejo outra alternativa: é preciso apoiar o treinador e, claro, o time. Quem sabe a solução "caseira" não funcione?

Último trabalho de Micale foi no Sul-Americano Sub-20, em fevereiro (Foto: Lucas Figueiredo/ CBF)

Nas Olimpíadas, a seleção se ajustou na reta final com um esquema que encaixou Luan, Neymar, Gabigol e Gabriel Jesus. Extremamente ofensivo e com dois volantes de chegada ao ataque, Renato Augusto e Wallace. Funcionou em um torneio de tiro curto e contra adversários menos qualificados. No Atlético, será um outro perfil e dificilmente o Galo usará quatro atacantes. Um esquema com dois meias ofensivos e dois atacantes estaria mais perto do que o foi usado nas Olimpíadas. Agora é aguardar para ver como será a montagem da equipe.

Era Roger
Técnico mais cobiçado do país no final de 2016, Roger Machado chegou com muitas expectativas ao Atlético. Eu mesmo, no início deste ano, citei motivos pelos quais Roger poderia dar certo no clube. Começou emplacando uma série de vitórias no Mineiro, foi campeão estadual e se classificou em primeiro lugar na fase de grupos da Libertadores e eliminou o Paraná na Copa do Brasil. Saiu após apenas 43 jogos, na minha opinião uma quantidade insuficiente de jogos para definir a qualidade de um trabalho, que poderia ter continuidade, especialmente por se tratar de uma forma de jogo diferente da que time e torcida estavam acostumados, como citei neste vídeo em meu canal no YouTube:


Com uma equipe postada com Adílson como volante mais fixo, Rafael Carioca na transição e Elias como um meia chegando ao ataque, o Galo fez bom jogos no primeiro semestre. Este esquema liberou Cazares, fez a bola chegar mais a Fred e ainda contou com mais proteção às laterais. Funcionou na decisão estadual contra o Cruzeiro e, com algumas mudanças (Yago no meio, Alex Silva na lateral, por exemplo), correspondeu em partidas contra o Godoy Cruz, pela Libertadores, e contra o próprio Cruzeiro, pelo Brasileirão. Na final mineira, em novo vídeo, falei da evolução tática da equipe de Roger:


No Brasileirão, apesar de bons jogos fora de casa, as derrotas no Horto ajudaram a criar questionamentos sobre o trabalho de Roger. Apesar de bons momentos em alguns destes jogos, o time saiu das características de jogo do treinador e, ao invés de trabalhar a bola, no chão, apelou para muitos cruzamentos, a maioria sem qualquer resultado. Na minha opinião, Roger ainda é um técnico promissor, que pode funcionar em outros clubes (ou até mesmo futuramente, no Galo). Os bons momentos dele no Atlético mostraram que tem capacidade para isso, apesar de toda a pressão por resultados imediatos. 

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