Série D e o caos do calendário para os pequenos


Poucos perceberam, mas no último final de semana terminou a primeira fase da Série D do Campeonato Brasileiro. O assunto até chegou a ter um certo destaque pelo fato de que a Portuguesa foi uma das equipes eliminadas. O que pouco se debateu foi o fato de que não foi só a Lusa, mas 36 clubes foram desclassificados. Muitos deles vão voltar a jogar apenas em 2018, o que só expõe mais uma vez o tanto que o calendário do futebol brasileiro é ruim para todos os envolvidos. Neste post falo também sobre a discrepância dos números de jogos para clubes de divisões diferentes no Brasil. 

Declínio e problemas da Portuguesa
A Portuguesa, que vem caindo sistematicamente de divisões no Campeonato Brasileiro, foi o caso mais midiático do final de semana. Tradicional, a Lusa está na segunda divisão estadual e não disputa mais competições nacionais neste ano. Para a sorte do clube, haverá a disputa da Copa Paulista, competição que dá ao campeão uma vaga na Série D em 2018. É a única chance de a Portuguesa jogar um torneio nacional no ano que vem e voltar a sonhar com a Série C, o que garante um calendário mais fixo.

Portuguesa segue na segunda divisão paulista mas ainda tem uma chance de jogar a Série D 2018 (Foto: Dorival Rosa/Portuguesa)

Em 2017, a Portuguesa fez 19 jogos na A2 do Paulistão, dois na Copa do Brasil e seis na Série D. Pode atuar mais 24 vezes se chegar à final da Copa Paulista. Pode atingir a marca de 51 jogos no ano, um sonho para vários outros clubes do país. O Ituano, por exemplo, também eliminado na Série D, vai ficar cinco meses parado até começar a preparação para o Paulistão de 2018. Mas existem casos piores.

Sem calendário
Uma rápida pesquisa nos sites de clubes eliminados e de suas respectivas federações expõe vários outros problemas. A Desportiva, do Espírito Santo, por exemplo, fez nove jogos no Campeonato Capixaba e outros seis na Série D, além de um pela Copa do Brasil. Até agora a federação local não divulgou a tabela e os times que vão disputar (se é que vai ter) a Copa ES. Caso não tenha ou a Desportiva não jogue, fecha o ano com 16 jogos oficiais. Difícil de manter uma equipe e seus profissionais empregados. Um time da Série C, por exemplo, só na competição nacional joga ao menos 18 vezes. Não é o ideal ainda, mas melhora bastante.

Existem outros exemplos de equipes que estão ainda mais distantes da mídia. O Trem, do Amapá, por exemplo, fez seis jogos na Série D e tem programados cinco jogos pela primeira fase do seu campeonato estadual, que começou no último final de semana e termina no dia 24 de agosto. Caso se classifique para a semifinal e para a final, fará mais quatro jogos, ou seja, nove no estadual inteiro. E 15 em todo o ano. A federação local também não divulgou se haverá outra competição em 2017.

Calendário para o ano todo
Já defendi várias vezes a necessidade da criação de várias divisões nacionais, mesmo que a partir da Série E, F ou G, que seja, o torneio possa ser regional. É preciso um calendário para todo o ano para todos os clubes. O estadual, sem os grandes, pode se estender por todo o ano, para dar calendário aos menores e dar uma folga para os principais clubes, cada vez mais espremidos entre Libertadores, Brasileirão, Copa do Brasil, Sul-Americana, etc. O que não dá é a Desportiva jogar 16 jogos em 2017 e o Sport entrar em campo 84 vezes (vou tratar desse assunto em um próximo post).

Exemplo inglês
Na Inglaterra tem um extenso sistema de divisões (que também será tema de um outro post) e, apesar do tamanho do país, funciona a regionalização a partir da sexta divisão, com jogos regulares para todos os clubes (só para constar, a estrutura inglesa tem mais de 7 mil times no total). Para ter um parâmetro mais simples, vou usar como comparação o calendário de um clube da League Two, a quarta divisão da Inglaterra.

O tradicional Portsmouth, que tem em seu currículo dois Campeonatos Ingleses e duas Copas da Inglaterra, disputou a League Two na temporada que se encerrou em maio passado. Fez, no total, 50 jogos oficiais, sendo 46 pela quarta divisão (são 24 clubes e o torneio é de pontos corridos), um pela FA Cup, um pela Copa da Liga e dois pela EFL Trophy, torneio para equipes a partir da terceira divisão. Detalhe: entrou de férias no final de maio de 2015, voltou aos trabalhos no início de julho, fez um mês de pré-temporada e amistosos (oito no total) e estreou no campeonato no início de agosto. 

Portsmouth teve calendário cheio na 4ª divisão inglesa (Foto: Portsmouth FC)

Esse é um cenário de sonho para qualquer clube da quarta divisão brasileira, que já relegou 36 times a férias forçadas em junho. E como se trata de mata-mata, dos 32 que sobraram, 16 também irão se juntar a essa turma em meados de julho. É preciso repensar seriamente o calendário do futebol brasileiro. Para ontem.

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