Prejuízo da convocação da seleção aos clubes: incalculável e desprezado pela CBF



Convocar um jogador é bom para o clube? Certamente, sim. Uma presença na seleção significa valorização de seu produto e até mesmo uma motivação a mais para o atleta suar a camisa em casa antes de partir para jogos internacionais. No Brasil, essa lógica anda cada vez mais estranha. Jogadores e clubes curtem e comemoram as convocações que podem, ao mesmo tempo, comprometer toda uma temporada. O boleiro pode se dar bem, se valorizar e cavar uma vaguinha fora do país, mas os clubes podem jogar no lixo meses de trabalho e preparação porque apenas aqui, no Brasil, equivocadamente chamado de país do futebol, os torneios não param quando a seleção joga. Logo, os craques dos times estão fora de jogos importantes.

A lógica é tão estúpida que a CBF, ao continuar mantendo um calendário falho e permitindo que os clubes joguem suas competições desfalcados, ela enfraquece exatamente seu produto principal, a seleção. Que a entidade não trata com o devido cuidado o Brasileirão ou a Copa do Brasil, todos já sabem, mas e a seleção? Parando o campeonato, a seleção poderia chamar dois, cinco, seis ou dez jogadores de um mesmo clube, se fortalecendo. Mas, como existe um acordo para não chamar mais do que dois (para a principal), jogadores que poderiam ser testados não terão chance e a seleção perde uma grande oportunidade.


Seleção tira Éverton Ribeiro do Cruzeiro e nada de jogos adiados... (foto: Rafael Ribeiro/ CBF)

Os efeitos para os campeonatos são maléficos. Logicamente, sem alguns de seus principais jogadores, os torneios são esvaziados exatamente por quem deveria valorizá-los. E cria um perigoso jogo de desequilíbrio. É diferente, por exemplo, um clube que disputa o rebaixamento enfrentar o Botafogo sem Jefferson. Um concorrente direto vai enfrentar o Bota depois com seu goleiro titular, o que é um prejuízo. O mesmo vale para quem luta por título ou vaga na Libertadores.

O Botafogo é um dos cinco clubes prejudicados nesta convocação da seleção principal. Decide vaga nas quartas da Copa do Brasil sem seu goleiro titular, que também vai ficar de fora de dois jogos do Brasileirão. O mesmo vale para o Atlético, sem Tardelli. O Corinthians precisa reverter uma desvantagem contra o Bragantino na Copa do Brasil sem Gil e Elias, ambos fora de dois jogos do Brasileiro, sem falar do peruano Guerrero e do uruguaio Lodeiro. O Santos investiu uma grana preta em Robinho para.... ele não jogar algumas rodadas. O Cruzeiro pode até não precisar de Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart contra o Santa Rita, mas eles, certamente, farão falta nos dois próximos jogos do Brasileiro. Por mais que a vantagem azul seja tranquila hoje, eventuais tropeços podem refletir no futuro.

Tardelli vai ficar de fora de jogos decisivos do Galo (foto: Bruno Cantini/ Atlético)
Não satisfeita com essa lista, a CBF ainda tirou jogadores para a seleção sub-21. Uma das peças importantes do Cruzeiro, Lucas Silva, está na lista. Lucas é titular e Alisson, reserva que tem entrado com regularidade, também foi chamado. A lista tem ainda nomes como Luan, do Grêmio, e Douglas Santos, do Atlético.

A conta pode ser acrescida pela convocação de estrangeiros. Os prejuízos são muitos. Para citar o exemplo do Cruzeiro, que tem um bom elenco, e boas peças de reposição, foram dois na principal, dois na sub-21 e dois gringos (Samúdio e Marcelo Moreno), ambos com pedidos aceitos de dispensa. Em uma semana, Tinga quebrou a perna e Egídio machucou a mão e as opções começaram a diminuir - e pode ainda mais, se levarmos em conta as possibilidades de cartões, outras contusões, etc. Do lado atleticano, Tardelli, o artilheiro do clube em 2014, não joga uma partida de volta do mata-mata da segunda competição mais importante do país e que vale vaga na Libertadores. E aí? O que vale mais? A convocação ou a perda dos campeonatos?

Passou da hora de os clubes se unirem e pressionarem de vez a CBF a, pelo menos, adiar seus jogos nessas situações. Vai encavalar um calendário malfeito e confuso, mas a entidade deve arcar com esse prejuízo. Que tire jogos dos estaduais, que adapte o calendário do futebol brasileiro ao europeu, que não tenha estaduais ou que for, o que acontece no momento é um absurdo sem tamanho.

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