O erro de não individualizar penas esportivas no Brasil


O recente caso de racismo de alguns torcedores do Grêmio e suas reações e consequências deixaram escancarada a cada vez mais falha forma de punição esportiva no Brasil. O país caminha para o lado errado cada vez que generaliza penas e não as individualiza. Os efeitos são os piores possíveis. Racismo é crime e deve ser punido como tal. Simples assim. Identificados os torcedores que praticaram o ato, eles devem sofrer as devidas punições no âmbito criminal. Na parte esportiva, que exclua (para sempre se for o caso) essas pessoas dos estádios - decisão que deveria partir da Justiça, mas que também pode ser tomada pelos próprios clubes. 

Ao punir o Grêmio (decisão que pode ser revogada), começaram as reações descabidas. Ontem, por exemplo, rumores de que torcedores atleticanos iriam ao Mineirão no jogo do Cruzeiro para praticar atos de racismo contra jogadores do Bahia foram tema comum nas redes sociais. E o inverso também pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer estádio. Se a punição fosse individual e com o transgressor indo em cana pelo seu ato, assuntos como esses jamais seriam cogitados. Evitaria também a tentativa de agressão de torcedores do Flamengo aos fãs do Grêmio que estavam no Maracanã no último final de semana. Todos foram colocados no mesmo saco e tratados de forma equivocada como racistas apenas por serem torcedores do clube gaúcho.

O mesmo erro se aplica nos casos de briga entre torcedores. Se dois, três ou cinco brigam em um estádio, a decisão estúpida é de fazer o time jogar em outra cidade (onde os mesmos dois, três ou cinco podem ir) ou atuar com portões fechados. E os demais torcedores? Os sócios que pagam rigorosamente em dia mensalidades altas? E aqueles, que mesmo sem serem sócios, teriam o direito de ver seus times na cidade onde moram?

Se generalizar as penas por outro crime, a homofobia, neste ano o Vitória pode se preparar para levantar a taça. Atual clube de Richarlyson, sempre xingado em todos os estádios, o Vitória pode ser beneficiado se o mesmo critério de exclusão do Grêmio da Copa do Brasil no caso do racismo fosse, hipoteticamente, usado a seu favor em um caso de homofobia. Terão torcedores dos outros 19 times da Série A que vão desferir uma infinidade de impropérios contra o jogador - assim como, certamente, torcedores do próprio Vitória já o xingaram em outras temporadas.

Na Inglaterra, os hooligans foram sumindo dos estádios à medida em que a lei passou a ser devidamente severa com eles. Violência nos estádios passou a ser punida com prisão e quem aprontasse em qualquer um dos gramados e arquibancadas do país sofria as consequências não apenas na parte esportiva. Afinal, crimes são crimes em qualquer lugar. E não é o fato de estar dentro de um estádio que dá o direito a qualquer um de fazer o que quer. Os clubes também entenderam a importância de manter longe essa turma e começaram a impedir torcedores problemáticos de aprontar em seus estádios. Com uma legislação severa, exemplos de punição claros e, óbvio, o cumprimento da lei, as pessoas passaram a perceber que, se fizessem bobagem, iriam mesmo em cana ou ficariam sob vigilância cerrada. Devidamente adaptado à realidade brasileira, o exemplo inglês é um dos que poderia ser aplicado por aqui. O quanto antes, se possível.

Comentários