Sete erros que continuam um mês depois do 7 a 1


Há exatamente um mês, 8 de julho, o Mineirão foi palco da maior humilhação da história da seleção brasileira, o 7 a 1 para a Alemanha, pela semifinal da Copa do Mundo. O estopim para uma centena de explicações e de matérias sobre a estrutura do futebol alemão, que foi praticamente apresentada para a grande maioria, que não acompanha o esporte fora do país. O trabalho de base, o investimento em profissionais e a profissionalização exemplar dos clubes da Alemanha, em comparação com o que convivemos no Brasil, passou a ser apontado como o principal motivo do abismo entre o atual estágio do esporte nos dois países, o que resultou na goleada. Além disso, o humilhante 7 a 1 foi taxativamente definido como o divisor de águas do futebol brasileiro. Que, a partir daí, lição tomada, tudo mudaria e.... Bom, um mês depois, aproveitando o sete em questão, listo sete coisas que provam que muita coisa parece não ter saído do lugar. Vamos lá!

Alemães comemoram no Mineirão: ponto de partida para mudanças? Ou não?
  1. Escolhas de Dunga e Gilmar Rinaldi - o processo de renovação dos comandantes da seleção brasileira começou sem muito apelo popular. Questionamentos sobre o trabalho anterior do treinador e até mesmo sua pouca experiência não faltaram. Não demorou muitos dias para o nome de Dunga ser ligado ao agenciamento do meia Ederson, o que causou ainda mais críticas. Gilmar também não é visto como um grande nome para comandar esse processo e seu trabalho anterior, como empresário de jogadores, também é motivo de críticas. Na necessidade de escolher logo um nome para os cargos, a CBF já começou pressionada. Poderia ter esperado mais. 
  2. Seleção longe do país - Em um momento de aproximar a seleção dos torcedores brasileiros, os que mais sofreram com o futebol limitado que a equipe mostrou na Copa do Mundo, a CBF continua priorizando jogos longe do país. Por mais que patrocinadores influam nessa decisão, algo poderia ser feito para aproximar o time da torcida, com jogos onde a seleção é apoiada incondicionalmente, o que poderia fazer bem nesse processo. Até o Superclássico das Américas, contra a Argentina, vai ser disputado em outro continente.
  3. Clubes com problemas - Reuniões de representantes dos clubes em Brasília e com a Globo, detentora dos direitos de TV, problemas financeiros escancarados e dirigente admitindo que não pagou impostos foram algumas das notícias que estão no ar desde o final da Copa. O fortalecimento do futebol brasileiro passa pelo fortalecimento dos clubes e é preciso uma reunião de forças para começar a mexer nesta situação. É preciso mudar a estrutura dos clubes e dirigentes devem ser responsabilizados por gestões danosas.
  4. Brasileirão esvaziado - O maior campeonato do país não tem o destaque que merece. Com promoção pífia e média de público de pouco mais de 13 mil pessoas por jogo, está longe de ser um primor. Jogos em horários inconvenientes, calendário maluco, ameaça de perda de pontos, perdas de mandos e mais uma infinidade de problemas tiram da vitrine o melhor produto do futebol nacional. E pode piorar ainda mais, com a esdrúxula e descabida ideia de retornar com o sistema mata-mata. Com isso, os torcedores ficam cada vez mais longe dos estádios e os clubes continuam com dificuldades de atrair seus fãs aos estádios. Além do que foi citado no item anterior, problemas de acesso, ingressos caros e poucas atrações para a torcida têm deixado as arquibancadas cada vez mais vazias.
  5. Calendário vai continuar ruim - A CBF poderia ter mudado de uma vez, mas divulgou o calendário de 2015 com uma série de problemas que só prejudicam o futebol local. A Copa América vai durar 24 dias e a seleção vai fazer cinco amistosos. E em nenhum momento o Brasileirão vai parar, o que, além de piorar ainda mais a competição, vai gerar uma antipatia dos torcedores com a seleção, que pode tirar seus principais jogadores de cena. Dependendo das ausências, jogos sem seus craques podem custar um título, uma vaga na Libertadores ou até mesmo rebaixamento. Os estaduais começam mais tarde, mas seguem firmes e fortes, com 19 datas - poderiam ser repensados de acordo com seu valor para determinados locais. E as sonhadas férias dos jogadores vão ter 25 dias, não 30. E um monte de clube vai continuar com meio calendário em 2015, jogando só o estadual.
  6. Divisão das cotas de TV equivocada - Dois dos melhores campeonatos nacionais europeus, o Inglês e o Alemão, geridos por ligas, acertaram em uma divisão de cotas mais equânime, que evita abismos como na Espanha. Um valor base igual para todos, somado ao desempenho, é usado na Inglaterra, por exemplo. Os demais valores são individuais e, aí sim, partem da característica de cada clube, sua arrecadação e sua exposição. O resultado são campeonatos mais equilibrados. O Brasil caminha na direção contrária. Vai acabar matando muitos clubes.
  7. Interferência excessiva do tribunal - Neste mês depois da goleada, o STJD devolveu pontos ao Criciúma, tirados depois de uma suposta escalação irregular, o mesmo motivo que culminou no rebaixamento da Portuguesa no ano passado. Os dois alegaram a mesma coisa, que não estava no BID a tal suspensão. O Tigre recuperou três pontos no Brasileirão, a Lusa joga a Série B. Além disso, vai julgar o Figueirense por briga entre torcedores do Sport, tirou mandos do Goiás, julgou o Inter pela suposta agressão de torcedores do Flamengo a André Santos e eliminou o classificado Novo Hamburgo da Copa do Brasil. A justiça esportiva confunde o torcedor, que não entende bem os critérios e a interferência excessiva nos resultados de campo.
A impressão que fica é que, se o jogo do Mineirão tivesse sido 14 a 1, teria 14 erros para apontar, uma triste realidade. Ainda tem tempo para mudar. Mas tem que começar anteontem. 2018 é logo ali para a seleção brasileira, mas até lá o futebol local precisa se fortalecer, com urgência.

Foto: Adão de Souza/ PBH


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