O abismo dos valores das cotas de TV e os efeitos ruins para o futuro do futebol brasileiro


Atlético, campeão da Libertadores, e Cruzeiro, campeão brasileiro, ganharam juntos neste ano mágico para o futebol mineiro, R$ 90 milhões (R$ 45 milhões cada) referentes aos direitos de transmissão de TV. Um valor até interessante, se for levado em conta o montante, superior ao que estávamos acostumados a ver há poucos anos. O que nem todos levam em conta é que esse valor, dos dois, somados, é apenas dois terços do que Corinthians e Flamengo recebem no momento, R$ 120 milhões cada.


É isso mesmo. E pode piorar? Não só pode como vai piorar. No novo contrato, que vai entrar em vigor em 2016/2017, os donos das duas maiores torcidas do país receberão a polpuda soma de R$ 170 milhões cada. Sim, Atlético e Cruzeiro (repetindo: atuais campeões sul-americano e brasileiro) também terão sua cota aumentada, de R$ 45 milhões para R$ 75 milhões. Em outras palavras: a diferença, que hoje é de R$ 75 milhões anuais, passará a ser de R$ 95 milhões daqui a pouco mais de dois anos.

Obviamente que as questões que envolvem os mercados mais fortes do país levam à diferenciação dos preços, assim como é muito difícil competir com os valores pagos pelos patrocinadores das camisas. Em uma analogia rápida e rasteira, Corinthians e Flamengo têm mais torcida, logo mais consumidores, aparecem mais para o público em geral, o que valoriza a marca, sem falar, claro, que estão sediados nos dois maiores polos econômicos do país. A questão que deve ser levantada é outra e é esportiva: será que vale a pena criar esse abismo financeiro que cedo ou tarde vai se refletir com mais força na tão falada competitividade do Brasileirão? Aquela velha história de que a competição já começa com vários candidatos ao título vai se transformar em uma balela definitivamente.

Sou fã do futebol europeu e adoro ver Barcelona e Real Madrid jogarem, mas não consigo achar graça no Campeonato Espanhol. Além de serem potências esportivas gigantescas e estabelecidas historicamente, o dinheiro investido pela TV nos dois transforma um torneio que poderia ser mais interessante basicamente em uma disputa entre Barça e Real. Basta conferir a lista de títulos e, o pior, a distância abissal de pontos entre um dos dois e o infeliz terceiro colocado - em 2010/2011, como exemplo, o Real, vice, ficou 21 pontos à frente do Valencia, terceiro lugar. Em 2011/2012, o mesmo Valencia foi o terceiro, 30 pontos atrás do vice, o Barcelona, e a 39 pontos de distância do campeão Real. Será que é para essa realidade que o futebol brasileiro caminha?

Existem exemplos que podem ser aplicados e adaptados das mais diversas partes do mundo. O inglês é um deles, ao dividir de forma igual os direitos de transmissão originais, dando bônus percentuais de acordo com a colocação no campeonato anterior. O campeão ganha X, o vice, X menos 2, e daí por diante. O que faz a diferença final são as vendas de pay-per-view e, claro, o patrocínio individual, ações, merchandising em dias de jogos, etc.

De acordo com informações da revista Placar, além dos dois mineiros, Internacional, Grêmio, Botafogo e Fluminense recebem o mesmo montante. O Santos, que hoje recebe R$ 60 milhões, receberá R$ 80 no próximo contrato. Vasco e Palmeiras pularão de R$ 80 milhões para R$ 100 milhões, enquanto o São Paulo saltará de R$ 80 milhões para R$ 100 milhões. Como se vê, as distâncias vão só crescendo, inclusive a do São Paulo para Corinthians e Flamengo - de R$ 40 milhões para R$ 60 milhões.

2013 não é um ano emblemático apenas para o futebol mineiro. O Brasil terá seis representes na Copa Libertadores de 2014 e pode entrar no torneio sem nenhum time do Rio de Janeiro e de São Paulo. Será que realmente esse grupo todo merece ser minimizado em prol de alguns favorecidos? O bom senso, tão importante para diversas situações, deveria estar presente nessa questão também. É urgente.

Comentários

  1. Essa divisão das cotas é desastrosa, vai destruir o resto que falta do futebol brasileiro, e o fim do Clube dos 13, foi justamente com esse propósito, a de espanholizar nosso combalido campeonato. Os dois times beneficiados só não são as grandes potências hoje por pura falta de competência dos dirigentes, mas não duvido que isso ocorra na marra, no sufoco dos adversários, e acredito também que será uma enorme faca de dois gumes para a emissora de TV detentora dos direitos de transmissão, pois como vem ocorrendo, a audiência vem caindo, e os torcedores não se identificando com o campeonato, não vai acompanhar o futebol, não vai ao estádio, nem adquirir produtos licenciados, e isso é uma tremenda falta de sensibilidade de quem detém os direitos televisivos, pois vai impregnar o bairrismo em detrimento do espirito esportivo, do espetáculo, da rivalidade, dos estádios cheios, da certeza de haver grandes jogadores dos dois lados do campo. Se os dirigentes brasileiros fossem competentes, se uniriam, fariam uma liga de clubes, nos moldes do antigo Clube dos 13, para cobrar uma divisão semelhante ao modelo inglês, que é a mais justa, igualitária e calcada no mérito, e deixando a emissora de TV com os dois queridinhos dela.

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  2. quando falou q o galo recebe 45 milhoes parei de ler

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  3. Isso é totalmente errado, o clubes prejudicados deveriam vender seus direitos de imagem para outro canal, como pode isso??????

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