Diego Costa e o real sentido das seleções nacionais


Diego Costa, tolamente massacrado por muitos, optou por defender, esportivamente, a pátria que o acolheu, decisão que poderia ser tomada por qualquer outro brasileiro que vive fora do país - simples e sem maiores dramas, alegações de traições e riscos de perder a nacionalidade da pátria amada, Brasil. A opção é de Diego, que fez tudo dentro das regras. Ponto. A questão mais séria que se abre no campo esportivo é a seguinte: qual é o atual sentido das seleções nacionais e, consequentemente, das competições entre elas?

Ao optar por defender a Seleção Espanhola, Diego fez uma escolha profissional, como se estivesse escolhendo qual clube defender. Está adaptado ao país, pode jogar na seleção com vários jogadores com os quais já atua, tem mais chance de ser aproveitado do que seria no Brasil, etc, etc. Mesmo caso de Deco há pouco mais de dez anos, quando também era um mero desconhecido por aqui, mas respeitado em Portugal. Ah, não custa lembrar que Deco foi chamado por Felipão para jogar pela Seleção Portuguesa. O mesmo Felipão que, ao lado do presidente da CBF, José Maria Marín, abominou a decisão de Diego Costa. Pior foi Marín, que adotou um discurso ufanista que remeteu diretamente a um período bem obscuro da história do Brasil.

Diego Costa no traço sempre brilhante de André Fidusi

Deco escolheu Portugal, Diego escolheu a Espanha e Emerson Sheik optou por jogar na seleção do Catar, assim como o polonês Klose joga pela Alemanha e o alemão Jones joga pelos Estados Unidos. A lista é gigantesca e cada profissional tem suas razões para defender determinadas seleções. Quando comecei a acompanhar futebol diariamente, no início da década de 1980, as exceções eram casos que eu achava realmente estranhíssimos, como ver que Puskas e Di Stéfano, húngaro e argentino, jogaram pela Espanha. E o que dizer de Eusébio? Como entender que o maior craque de Portugal era moçambicano?

Ainda estava assustado quando brasileiros defenderam Japão e Tunísia em Copas do Mundo e jogadores passaram a receber convites para naturalizar e jogar por países que mal conheciam. Passei a me preparar para ver seleções estranhas, com gente de tudo o quanto é canto do mundo sob a mesma camisa e até mesmo acostumar que a Seleção Brasileira vai jogar mais vezes no ano longe do país.

Agora não assusto mais nem acho nada mais estranho. Como está dentro das regras esportivas, não vejo nada de mais o cara jogar pelo país que quiser. Mas chegou o momento de ver se realmente, em um momento no qual a maioria dos torcedores está muito mais ligado em seus clubes do que na seleção nacional, em uma época em que o calendário é bem apertado e que as convocações são cada vez mais contestadas, se vale a pena mesmo ter competições entre seleções nacionais. A origem da formação delas, com os melhores de cada país se reunindo, o orgulho nacional e a identificação com a pátria, têm se perdido cada vez mais. E, por esse lado, acho que a Fifa poderia frear de alguma forma a facilidade dessas naturalizações esportivas. Melhor fazer um grande campeonato mundial de clubes.


 

Comentários

  1. Alexandre Kupidlowsky31 de outubro de 2013 às 21:49

    Concordo. A meu ver, simplesmente deveria ser proibidas essas naturalizações. Estapafúrdio ver o Liédson enfrentando, com Portugal, o Brasil na Copa do Mundo de 2010. Penso também que a Fifa é tão egocêntrica e ditadora que chega ao ridículo de colocar a Austrália para disputar as eliminatórias asiáticas. Que se dane a Nova Zelândia, Fiji e Samoa, que invistam no esporte

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