A conquista do Atlético, o vice do Cruzeiro e o que ambos podem fazer em 2013


Obrigação para uns, troco para outros, laboratório para vários, o Campeonato Mineiro, que ocupa um espaço no calendário inversamente proporcional à sua qualidade, chegou ao fim ontem com a 42ª conquista do Atlético, que assustou a torcida ao correr riscos no Mineirão após vencer o jogo da ida por 3 a 0 no Independência. Perdeu para o Cruzeiro por 2 a 1 e ficou com a taça, obviamente um estímulo e um incentivo para os torneios mais importantes. O Cruzeiro fecha a competição estadual com saldo positivo e uma boa base para o resto de 2013. Mas, enfim, o que os dois clubes podem tirar do jogo de ontem para as demais competições deste ano?


Réver levanta a taça: 42º título mineiro do Galo



Atlético
O Atlético repetiu no primeiro tempo de ontem a péssima atuação dos primeiros 30 minutos do jogo contra o São Paulo, ida do confronto pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Desligado, apático, sem incomodar o adversário, tomou dois gols em 33 minutos e, assim como aconteceu no Morumbi, praticamente coloca tudo a perder. Dois pênaltis claros, diga-se de passagem, fruto de falhas que o Galo repetiu. No primeiro pênalti, espaço demais nas costas de Marcos Rocha e lentidão de Gilberto Silva, que acabou derrubando Dagoberto - fato que tinha acontecido no Independência, mas fora da área. No segundo, a demora e a dificuldade para sair da defesa fez com que a bola voltasse à área, quando Richarlyson derrubou Borges. Na etapa inicial, o Atlético pouco jogou, não colocou a bola na chão, insistiu em chutões que não deram resultado e, quando subiu, deu espaços para o Cruzeiro aproveitar os contra-ataques. Peças importantes do time sumiram, como Ronaldinho Gaúcho e Bernard. Jô, isolado, buscou jogo, mas pouco foi aproveitado. Josué, na vaga de Pierre, deu espaços demais e foi mal na saída de jogo.

Ronaldinho converte o pênalti que deu ao jogador seu primeiro título pelo Atlético




Mais focado no segundo tempo, o Galo fez o que dele se esperava. Colocou a bola no chão, usou a qualidade de seus jogadores para acuar o Cruzeiro, usou as laterais e a velocidade de Bernard e Tardelli e equilibrou o jogo. Cresceu na partida, dominou a partida, administrou a vantagem que tinha construído no primeiro jogo e se portou como um time que pretende ser campeão de torneios mais importantes. Usou a experiência. O time estava melhor em campo quando Egídio entregou a bola para Luan, que sofreu pênalti do próprio Egídio, em lance duvidoso. O gol de Ronaldinho aos 33 minutos.

Luan foi decisivo ao sofrer o pênalti aos 32 minutos da etapa final

Balanço atleticano: é preciso abrir os olhos em jogos mata-mata e não dar tanta chance para um adversário acabar com a disputa ou em uma partida. Tem qualidade de sobra e um time estruturado para conquistar títulos e decidir partidas e confrontos com tranquilidade. Quando joga de forma compacta, com ligação entre os setores e auxílio de todos na marcação, é um time muito difícil de ser batido. Ontem, oscilou entre o bom conjunto e a desorganização. Tem time, entrosamento, talento e bons reservas para ir longe nas competições mais importantes desta temporada. Se tem taça, vale comemorar, mas todos, da torcida à diretoria, esperam que o time encerre logo o jejum de conquistas mais importantes. 

Cruzeiro
O Cruzeiro fez o que se espera de um time que deveria correr atrás do resultado. Entrou com espírito de decisão, armou o jogo na base da troca de passes, encurralou o Atlético no início da partida e marcou com firmeza os principais jogadores do adversário, evitando que as jogadas mais importantes do Galo fossem criadas. Soube também aproveitar os erros do rival, como na construção do lance do primeiro pênalti. Bem mais focado do que o Atlético, pressionou e fez a torcida jogar junto, pois criou a expectativa de que estava perto de fazer os três gols de diferença que precisava. A bola saiu com mais qualidade dos volantes para os meias e jogadas de velocidade pelas laterais também foram bem usadas.


Balanço do trabalho de Marcelo Oliveira no Cruzeiro é muito positivo até o momento

Se no primeiro tempo o time de Marcelo Oliveira mostrou qualidades e poder de decisão, no segundo entrou mais devagar, foi dominado pelo Atlético e não conseguiu colocar em prática os fatores que o fizeram dominar a primeira metade de jogo. Deu a impressão de ter cansado. Passou a jogar pouco pelos lados, não neutralizou as armas alteticanas e não contou com jogadores que poderiam ter mudado a história do jogo. Diego Souza e Éverton Ribeiro, que fizeram um primeiro tempo abaixo do bom nível geral do time, sumiram no segundo, Dagoberto foi pouco acionado, assim como Borges (exceto por um chute que Victor espalmou), e o contra-ataque que poderia ser aproveitado não chegou a ser criado.

Dagoberto fez um excelente primeiro tempo e deu muito trabalho para a defesa do Galo



Balanço Cruzeiro: A base cruzeirense está montada e está sendo bem trabalhada por Marcelo Oliveira. Aos poucos o time ganha entrosamento e consegue mostrar o bom resultado dos treinamentos quando faz com qualidade de troca de passes e joga sempre com a bola no chão. A entrada de Dedé certamente vai aumentar o nível da zaga, a tornando mais segura. A diretoria sinaliza com um novo volante e, se for um que tem a característica de sair jogando, pode melhorar e muito o setor. Para tudo funcionar melhor, os meias devem ser mais produtivos e mostrar mais poder de decisão em jogos pesados. Em boa condição, os meias podem ser fundamentais, ao lado de Dagoberto, para a produção de Borges, um jogador que sabe definir, mas que precisa de bolas mais redondas. As laterais ainda são uma incógnita. Ceará é experiente e bom marcador, mas se contunde com frequência. Mayke tem muito potencial, mas ainda precisa de uma sequência de jogos. Do lado esquerdo, Egídio é limitado e Éverton foi inconstante. Na média, um bom início de temporada, mas o Cruzeiro ainda precisa de ajustes para ter mais sucesso em 2013.


Mineirão

Não posso deixar de mencionar o fato de ter visto muitos torcedores de Atlético e Cruzeiro misturados ontem em alguns setores do Mineirão. Prova de que muita gente vai mesmo ao estádio para torcer e curtir o futebol. Os que não estão a fim de fazer isso ou que usam o futebol para outros fins devem ser punidos exemplarmente e começar a manter distância de estádios. As notícias da detenção de flanelinhas e da punição a quatro "torcedores" que quebraram cadeiras (vão pagar R$ 109 por um novo assento, de acordo com matéria do jornal O Tempo, e apresentar comprovante de pagamento no juizado criminal) são interessantes e sinalizam para um novo tempo. Claro que ainda ocorreram problemas que devem ser trabalhados para desaparecer dos estádios, mas o fato de começar a aparecer notícias de ações positivas não deixa de ser um alento.

Fotos: Bruno Cantini/ Atlético (Réver, Ronaldinho e Luan/Egídio) e Juliana Flister/ Vipcomm (Marcelo Oliveira e Dagoberto)


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