Revelado pelo Atlético, clube que defendeu em 1993 e 2009, incluindo o tempo nas categorias de base, Rafael Miranda está desde 2010 no Marítimo, de Portugal, clube que vai disputar nesta temporada a fase de grupos da Liga Europa, a segunda competição mais importante do continente. Nesta entrevista exclusiva ao blog, Rafael fala da experiência dele na Europa, como é viver no Velho Continente, quais as principais diferenças táticas que percebeu, o atual estágio do futebol português e se ainda acompanha ou não o Galo. Confiram:
Frederico Jota - Nesses
dois anos de Portugal, quais as maiores diferenças entre a estrutura do futebol
no país e aquela com a qual você conviveu por muito tempo no Brasil? (Estádios,
centros de treinamento, acessos, respeito ao torcedor, relação com o
público, etc.)
Rafael Miranda - Portugal tem algumas facilidades, como o idioma e
algumas coisas no aspecto cultural. Com relação ao futebol, no Brasil os
jogadores treinam mais. Isso é a principal diferença que eu vi. Os clubes que
eu joguei no Brasil (Atlético-MG e Atlético-PR) têm infraestrutura de primeiro
nível e é melhor do que a maioria dos clubes de Portugal. Com relação à
torcida, o fanatismo no Brasil é muito maior. Aqui, independentemente da
vitória ou da derrota, os torcedores nos respeitam fora de campo e vivemos uma
vida normal, pelo menos na Ilha da Madeira. Já no Brasil eu não tinha essa
liberdade em algumas ocasiões. Só que aquele incentivo da torcida que eu já
vivenciei em jogos no Mineirão não existe aqui.
E as
diferenças táticas, dentro de campo? Como foi a adaptação e o que mais mudou na
forma de jogar? Teve alguma dificuldade para se adequar?
Aqui a parte tática é mais cobrada. Todos precisam
seguir as determinações do treinador. Mas eu me adaptei muito bem ao estilo de
jogo europeu. Eu sempre fui mais tático do que técnico, mas no futebol
brasileiro isso é pouco reconhecido pela torcida e imprensa, de modo geral. Aí
quem está na capa dos jornais quase sempre é o atacante, aquele que faz gol.
Mas, aqui em Portugal, eles dão muito destaque ao jogador tático, aquele
“trinco” (primeiro volante) que tem papel fundamental na equipe. Hoje não tenho
uma posição definida. Jogo às vezes de primeiro e às vezes de segundo volante.
Culturalmente,
o que significa essa experiência de viver na Europa? O que, pessoalmente, tem
agregado para você?
Conhecer novos lugares, novas culturas, culinária,
tudo isso é muito benéfico. Quando a gente tem um folga, dá tempo e não fica
caro dar um pulo em Paris ou em Londres. A experiência é única. Mas isso, na
minha opinião, deve ser temporário. Não há lugar no mundo tão bom quanto o
Brasil.
Pensa
em jogar mais tempo na Europa ou já sente necessidade de voltar para o Brasil?
Tenho mais um ano de contrato com o Marítimo (o
contrato termina em junho de 2013), mas acho que fico ainda na Europa por mais
um tempo. Não sei dizer ao certo, mas daqui a uns três ou quatro anos eu pretendo
voltar a jogar no Brasil.
Como
você avalia o atual estágio do futebol português? O que falta para o país
disputar títulos de grande porte como Eurocopa e Copa do Mundo?
Nos últimos tempos, a economia do país não está bem
e isso está influenciando diretamente no futebol. Por exemplo, o governo da Madeira
é o principal incentivador do Marítimo, mas o dinheiro repassado tem diminuído.
Isso é ruim e atrapalha o crescimento dos clubes portugueses e da própria
seleção. Grandes contratações não têm acontecido. Mas, fora isso, muitas
equipes trabalham de forma profissional, na criação de jogadores na base, por
exemplo. Acho que o futebol português tende a crescer nos próximos anos, apesar
do momento econômico.
Das
experiências fora de Portugal, em outros países europeus, o que mais te
impressionou? Algum estádio, estrutura ou cultura diferente?
Eu fiz alguns jogos fora de Portugal na temporada
2010/11 e agora, nos jogos eliminatórios da Liga Europa. Até agora, não joguei
em um grande cenário do futebol europeu. Mas na Europa é tudo organizado, bem
planejado. Nesta semana viajamos para a Geórgia, para jogar contra o Dila Gori,
em jogo decisivo pelo playoff da Liga Europa. Um empate garante o Marítimo na
fase de grupos. Será mais um local pra conhecer. (O Marítimo conseguiu a classificação dias depois da entrevista que fiz com Rafael Miranda. No sorteio dos grupos, a equipe portuguesa caiu na chave D e terá como adversários o Bordeaux (França), o Clube Brugge (Bélgica) e o Newcastle (Inglaterra).
O
Marítimo ainda está longe de disputar o título nacional, mas está tendo a
oportunidade de jogar a Liga Europa. Como é jogar uma competição continental e
qual a dificuldade de atuar em um clube que tem dificuldade de lutar pelo
título em seu país?
Em Portugal, Porto, Benfica e Sporting estão muito
a frente dos demais clubes. O Marítimo e outras equipes entram no Campeonato
Português para ficar entre os cinco primeiros e disputar a Liga Europa. Graças
a Deus, já consegui isso em duas oportunidades. A Liga Europa é muito interessante
pra gente, mas ainda não tive a oportunidade de entrar na fase de grupos e
enfrentar grandes equipes. Neste ano estamos perto e, como disse anteriormente,
espero que a gente passe pelo Dila Gori nessa quinta-feira. (Conforme expliquei na resposta anterior, o Marítimo avançou na competição).
Ainda
acompanha o Atlético? Como você vê essa boa fase da equipe? O que mudou em
relação às outras temporadas, quando o time ficou na parte de baixo da tabela?
Sim, acompanho com frequência e assisto algumas
partidas quando passa aqui na TV. Eu peguei bons e maus momentos do Atlético.
Não sei ao certo qual é o segredo do sucesso, senão todos seguiriam essa regra.
Mas acho que o clube se estruturou ainda mais e, acima de tudo, montou um bom
elenco. Pelo que eu tenho visto, acredito que o Galo será campeão neste ano. A
torcida atleticana merece esse título.
Como
o futebol brasileiro é visto em Portugal? Como é avaliada a chegada de
jogadores de ponta ao país, como Forlán e Seedorf? O Campeonato Brasileiro é
acompanhado aí? Atrai a atenção dos jogadores locais?
Sim, o futebol brasileiro tem muito espaço aqui na
imprensa portuguesa. Todos comentam. A chegada de jogadores de ponta só
fortalece o Campeonato Brasileiro e mostra que o país está em crescimento. Hoje
os clubes brasileiros conseguem pagar salários europeus para muitos jogadores.
O Atlético mesmo faz isso. Enquanto a Europa sofre com um problema econômico, o
Brasil cresce. Isso se refletiu no futebol.
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