Clássico volta ao Independência com polêmicas, tumulto e empate em 2 a 2


Demorou mais de dois anos, mas enfim Belo Horizonte recebeu uma partida entre Atlético x Cruzeiro. E o clássico de ontem no Independência, apesar de ter ficado longe de um primor técnico, teve muitas emoções e ficou marcado pelas jogadas decisivas dos craques Ronaldinho e Montillo. E o que não faltou foi nervosismo e polêmica, com oito cartões amarelos, três expulsões e um erro grosseiro do juiz pernambucano Nielson Nogueira Dias. O empate em 2 a 2 manteve o Galo na liderança do Brasileirão, enquanto o Cruzeiro fecha o turno em oitavo lugar.

Em melhor fase e com sua equipe titular em campo, a expectativa era que o Atlético tomasse a iniciativa do jogo e pressionasse o Cruzeiro desde o início, mas o que se viu foi um jogo bastante truncado no meio-campo e com pouca criatividade dos dois lados. O primeiro chute a gol, porém, terminou com a bola nas redes. Com pouco mais de dez minutos, o Cruzeiro perdeu o limitado Fabinho, contundido. E quem entrou em seu lugar foi Wallyson, muito superior tecnicamente. No seu primeiro toque na bola, aos 16 minutos, recebeu um cruzamento da esquerda, de Éverton, e empurrou para as redes. Éverton recebeu passe de Montillo e gol saiu em uma brecha deixada por uma subida de Marcos Rocha.


Montillo foi decisivo e participou do dois gols do Cruzeiro

Com três volantes e três zagueiros, incluindo Léo, improvisado como lateral-direito, o Cruzeiro teve a marcação reforçada, cometendo várias faltas. A equipe de Celso Roth soube como anular armas atleticanas como Bernard, marcado em cima por Léo e sempre com Leandro Guerreiro na cola. A entrada de Wallyson fez bem ao Cruzeiro, já que o atacante voltou para ajudar a defesa, reforçando ainda mais a marcação.

Mesmo com a quantidade excessiva de faltas cometidas pelo Cruzeiro, o Atlético pouco aproveitou as oportunidades. Ronaldinho errou as cobranças de falta próximas à área e o time teve muita dificuldade para colocar a bola no chão, insistindo demais nos longos lançamentos para Jô, que teve em seu encalço dois zagueiros altos, Thiago Carvalho e, especialmente, Mateus. Ontem, o atacante atleticano pouco fez seu trabalho de pivô, mas foi decisivo no lance do gol de empate, aos 47 minutos, após escanteio cobrado por Ronaldinho. Jô desviou no primeiro pau e Leonardo Silva emendou com muita categoria. Antes, Danilinho, sozinho na área, desperdiçou uma grande chance, de cabeça.

Torcida do Cruzeiro fez festa no Independência, mas alguns se excederam e podem prejudicar o clube

O início do segundo tempo ficou marcado primeiro pela discussão entre Bernard e Leandro Guerreiro. O atleticano, que não tinha nada que catar objetos jogados pela torcida em campo, se desentendeu com o cruzeirense, que não tinha nada que partir para cima de Bernard. A discussão e o empurra-empurra resultou na expulsão dos dois. Depois, uma cena lamentável: vários objetos foram arremessados em campo - um copo d´água acertou o juiz, inclusive. O jogo ficou paralisado 7 minutos. E, claro, cabe uma punição ao Cruzeiro, que será causada por uma falta de consciência desses torcedores que atiraram muita coisa em campo.


Ronaldinho participou do primeiro gol e fez um golaço no segundo tempo

Depois da paralisação, o Atlético voltou um pouco melhor, colocando a bola no chão e prensando o Cruzeiro em seu campo. Júnior César e Guilherme tiveram boas chances e desperdiçaram. Exceto por esses lances, o jogo continuou bem disputado no meio-campo e com o Cruzeiro exercendo uma forte marcação, inclusive nas laterais, dando poucas oportunidades para Marcos Rocha e Júnior César apoiarem o ataque. O Cruzeiro, que foi muito eficiente na marcação, quase fez 2 a 1 em um contra-ataque, em um chute de Borges, que passou por baixo de Victor. Um estilo de jogo característico de Celso Roth, que pode ser bem eficiente no restante do Brasileirão.


Torcida do Galo fez uma bela festa para o time na saída do CT

O final de jogo foi marcado pelos craques. Mesmo tendo perdido Pierre, expulso, o Galo fez 2 a 1 em um lance espetacular de Ronaldinho, que pegou a bola praticamente no meio-campo, driblou Lucas Silva e entortou duas vezes Marcelo Oliveira, antes de rolar com precisão a bola no canto do goleiro Fábio. Depois do 2 a 1, o Cruzeiro partiu para cima, chegou a acertar a trave em um lance de Montillo e seguiu pressionando até empatar, aos 56 minutos, em um lance do argentino, que rolou para Mateus empatar. Se Montillo foi bem nesse lance, o juiz Nielson Nogueira errou feio. Na origem da jogada, Montillo fez uma falta clara em Guilherme, merecia levar o cartão amarelo (seria o segundo e a expulsão), mas nada foi marcado. O placar de 2 a 2 pode até ser considerado justo, se baseando na pressão que o Cruzeiro fez no fim, mas o gol saiu de uma jogada ilegal.

Apesar do nervosismo e da partida truncada a maior parte do tempo no meio-campo, o clássico trouxe boas lições. Do lado do Atlético, a prova de que, quando coloca a bola no chão e alterna suas alternativas ofensivas, pode ser fatal - e continua sendo um time muito difícil de ser batido. O Cruzeiro, por sua vez, pode melhorar muito a partir do momento em que reforçar sua marcação e saber usar melhor as jogadas de contra-ataque. Bem postado defensivamente - e com Lucas Silva titular, a equipe azul pode dar mais chances de conclusão a Borges, que pode se entender muito bem com Wallyson. Dos dois lados, uma certeza: Ronaldinho e Montillo decidem jogos. Do lado de fora do gramado, nas arquibancadas e incluindo problemas longe do estádio, outra certeza: torcida única não é solução.


Fotos: Washington Alves/Vipcomm (Montillo e torcida Cruzeiro), Bruno Cantini/Atlético (Ronaldinho) e Anderson Magalhães/Atlético (Cidade do Galo)

Os interessados em ver a súmula do jogo e ver o que o juiz relatou cliquem no link abaixo:
http://conteudo.cbf.com.br/sumulas/crat260812s.pdf

Comentários

  1. Fred, ótima análise. Só não concordo com uma coisa: não vejo por que motivo o Bernard não poderia/deveria pegar objetos atirados ao campo. O que eu vi é que ele foi agredido pelo Leandro Guerreiro e acabou penalizado.
    Quanto à torcida única, um contraponto: imagine como ficariam os arredores do Estádio, com os ânimos exaltados, e com a presença maciça de atleticanos e cruzeirenses? Abração.

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  2. Boa análise, meu caro!

    Muito torcedores reclamaram dos erros da arbitragem, mas acredito que os erros aconteceram para os dois lados (no primeiro tempo o Cruzeiro foi muito prejudicado e no segundo o Atlético), apesar de que o erro maior foi contra o time do Atlético, num lance que resultou em um gol. Mas acredito que o empate é o resultado mais justo pelo que foi apresentado pelos dois times.

    Ah, e bom você ter falado do Lucas Silva, ele está crescendo e está passando mais segurança a cada jogo. Boa revelação da base para preencher esse espaço, que estava carente ou mal preenchido no time do Cruzeiro.

    Um abraço, cara!

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  3. Análise consciente, coerente e contundente. Como sempre. Abraços!

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