A eliminação de City e United da Champions League

O amigo Fábio Pinel, que nem sempre interage com todos no twitter, não resistiu ontem à eliminação precoce dos dois clubes de Manchester da Champions League e, como sabe que sou um fã do futebol inglês, logo quis saber, via twitter, minha opinião sobre a "ridícula" (na opinião dele) saída de United e City da fase de grupos do principal torneio de clubes do mundo. Como o que eu acho não cabe em 140 toques, resolvi responder através deste post, que serve também para todos os que me perguntaram o que aconteceu.

Começando pelo Manchester United, esta sim uma eliminação que foi muito decepcionante e que pode ser colocada na conta do grande Alex Ferguson, que optou por testar jogadores em partidas decisivas, inclusive a que complicou a situação do clube, o empate contra o Basel no Old Trafford. Por mais que o United passe por uma fase de transição, abrir mão de alguns jogadores importantes em jogos da Champions League antes de ter uma situação definida pode ser fatal. De Gea ainda não supriu a ausência de Van der Sar, a zaga convive com contusões, Scholes não deixou herdeiro e Young ainda não tem um entrosamento perfeito com Rooney.

A montagem de um novo time e o processo que é preciso para ele se encorpar é mais difícil em um campeonato como o Inglês, mais equilibrado e com um nível muito superior ao do Espanhol, torneio que o Barcelona do amigo Pinel disputa e que costuma ser decidido em dois jogos. Aliás, é mais fácil montar uma equipe, Guardiola e Mourinho que o digam, em um campeonato em que o terceiro colocado fica a 30 pontos de distância do vice-campeão. Ferguson vai ter dificuldades para criar um novo United (já fez isso em 1992, foi campeão europeu em 1999, e montou outro time que foi campeão continental em 2008 e vice em 2009 e em 2011). Agora, com a eliminação precoce e a ascensão (com goleada no Inglês) do rival da cidade, a pressão será mais forte.

O caso do City é bem diferente. Os Citizens caíram no grupo mais complicado da primeira fase da Champions League e foi eliminado com 10 pontos. Mostrou personalidade e qualidade em vários momentos, como ontem, na vitória contra o Bayern, um peso pesado histórico. Perdeu a vaga nas nas partidas contra o Napoli, que vem reocupando seu espaço no cenário italiano e europeu. O Villarreal, que poderia ser uma carne de pescoço, mostrou muito da fragilidade dos demais clubes espanhóis em relação aos dois papões daquele país.

Óbvio que, pela qualidade do elenco do Manchester City, a expectativa era de uma classificação, mas o clube passa por um processo de adaptação à Champions League, que é natural, e que pode dar frutos em breve. Só para exemplificar, apesar de todo seu poderio, o Barcelona só foi ser campeão europeu na quinta vez que disputou a então Copa dos Campeões. E foi ser bi na 16ª participação. Como disputa um campeonato nacional mais frágil, o Barcelona sempre teve mais oportunidades de jogar a Champions e fazer com que o clube e os jogadores se acostumassem à competição. O Barça não só se acostumou como aprendeu a jogar o torneio de uma forma especial. Para efeito de comparação, 15 times ingleses já jogaram a Copa dos Campeões/Champions League, lembrando que ficaram seis temporadas suspensos por causa da tragédia de Heysel, em 1985. Com seis competições a mais, apenas 9 espanhóis jogaram o torneio. Além disso, apenas dois espanhóis foram campeões (adivinhem quem), enquanto quatro ingleses já levantaram a taça (Manchester United, Liverpool, Aston Villa e Nottingham Forest).

Casos raros de conquista de Champions logo na primeira vez que disputam são cada vez mais difíceis de acontecer, o que torna ainda mais especial os feitos de Nottingham Forest (1978/1979) e Aston Villa (1981/1982), campeões na temporada européia de estréia.

Tivessem conseguido as vagas, City e United poderiam crescer na fase de mata-mata. O City, pelo elenco e pela empolgação, enquanto o time de Ferguson, pela tradição, iria dar trabalho. Exatamente por isso entendo a mensagem do Fábio Pinel. Ele, como barcelonista declarado, respirou aliviado com a ausência dos dois ingleses no caminho do seu time. O Barça é favorito ao título europeu e o maior obstáculo à quinta conquista catalã está no mesmo país e é comandado por um técnico especial que demorou para organizar um time no futebol inglês, de onde saiu sem ter tempo suficiente para ser campeão europeu...