Uma visão sobre a situação do Atlético



Mancini foi cético logo após o lamentável jogo de ontem contra o Grêmio Prudente: "mais um ano de sofrimento", disse o jogador. A frase dele poderia ter saído da boca de qualquer torcedor, incrédulo com a eliminação do Atlético na segunda fase da Copa do Brasil para o lanterna do Campeonato Paulista. Ao contrário de outras ocasiões, nem mesmo o erro grosseiro de arbitragem, que anulou um gol legítimo de Réver, foi questionado com tanta veemência ou apontado como a única causa para a bisonha eliminação. Todos estão querendo saber o que fazer e tentando entender o que fez de um elenco que estava sendo montado para disputar títulos um grupo quebrado, desentrosado e com deficiências técnicas alarmantes.

Grande o Atlético sempre vai ser, pela história, pela torcida, pelos jogadores espetaculares que vestiram a camisa alvinegra em 103 anos. Mas o clube precisa se recolocar urgentemente porque para ser ainda maior não dá para ter na lista apenas um título nacional, conquistado há 40 anos e se manter distante das competições internacionais (os títulos da Conmebol em 1992 e 1997 são importantes, mas foram conquistados duas décadas atrás).

O clube em si tem uma estrutura invejável, que permite a todos os atletas as melhores condições possíveis para desenvolver seu trabalho, com profissionais de gabarito na retarguada. Exatamente por isso custo a entender porque alguns jogadores demoram a entrar em forma no Galo, como foram os casos recentes de Diego Souza e Daniel Carvalho. Os garotos da base também não têm do que reclamar. Já estão no passado os tempos em que treinavam em campos da Região Metropolitana e que mal eram observados pelos técnicos dos profissionais. Hoje, também têm tudo do bom e do melhor na Cidade do Galo e treinam em campos lado a lado com o time principal. E, ainda assim, está difícil saber por que tão poucos jovens revelados no clube assumem a condição de titulares, são idolatrados pela torcida e levam o time a conquistas. As últimas lembranças já são distantes, como Diego Alves, o próprio Mancini, Caçapa, Dedê...

Nos últimos anos, passaram pelo clube técnicos do porte de Celso Roth (atual campeão da Libertadores), Vanderlei Luxemburgo (multicampeão nacional) e Dorival Júnior (atual campeão da Copa do Brasil), além de jogadores de qualidade indiscutível, como Diego Tardelli, Obina, Réver e Ricardinho. Como não conseguem arrumar um time?

Erros aconteceram, claro. Contratações equivocadas (Fábio Costa), apostas boas mas que deram errado (Rentería, Ricardo Bueno) e desvio no planejamento, como dispensas de jogadores (Zé Luís, Ricardinho) por quebra de hierarquia e saídas sem reposições à altura. Mas, ainda assim, dava para sonhar com voos mais altos.

O ano vai começar em maio para o Atlético, com o Campeonato Brasileiro. O Mineiro não satisfaz mais a torcida, que quer algo mais. O clube não disputa desde 2000 a Libertadores. Nesse meio tempo, passaram pela competição sul-americana Santo André, Paulista, Paraná, Coritiba... O Galo, desde 2002, sequer chega à semifinal da Copa do Brasil. Deu alento à torcida em 2009, quando tinha um time organizado e chegou a sonhar com o título brasileiro. Mas o que pareceu uma escalada para o retorno ao convívio na parte de cima da tabela se transformou em (mais um) martírio no ano passado. Exemplos de superação não faltam. O Internacional quase caiu no Brasileirão em 2002, se reformulou e, hoje, é bicampeão da Libertadores. O Grêmio caiu em 2005 e, dois anos depois, foi vice-campeão sul-americano.

Para mudar essa história, o time tem muitas armas. A torcida, a estrutura, a diretoria, que trabalha e trouxe Guilherme e Dudu Cearense (boas contratações, que podem ajudar e muito). O time que pode fazer o clube trilhar outros rumos não é esse, que jogou ontem (confira, acima, a arte do jogo feita por Frederico Machado), será um mais forte. O Atlético precisa renascer. Urgentemente.

Comentários

  1. Caro Fred, o Atlético precisa é se profissionalizar administrativamente. Gestões amadoras e passionais tem sido a tônica administrativa nesse grande clube brasileiro. Ninguém discute as intenções do atual presidente, mas devemos detectá-lo como um torcedor-presidente, não um presidente-torcedor como deveria ser. Assim, toma atitudes sempre passionais, movidas a pura emoção. Contratar dois times por ano - um para o primeiro, outro para o segundo semestre - só serve para dar satisfações pós fracassos. Profissionalismo, esse é o segredo.

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  2. Pois é, Marlucio, as coisas têm que mudar urgentemente. Tem muita coisa sem resposta. A paciência da torcida tem limite.

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  3. Concordo acima com Marlucio...
    E com isso eu tiraria das "armas" para tal reestruturação a atual diretoria, ela sim tem muitos erros, falta mais humildade e menos garganta. Vejamos: o Ricardo Bueno, Rafael Cruz, Daniel Carvalho, entre muitos outros não têm culpa de estar jogando neste time e sim quem os trouxe e ainda os mantém. Início do ano foi estimulante, contratações para encorpar, mas os "destaques" não estão mais, se foram Tardeli, Obina, Diego Souza (ainda podia render), Ricardinho (onde deveria ter contornado a situação ex.: Cruzeiro com Roger e Gilberto)... Falta humildade, e muita, a quem conduz atualmente o Atlético.

    Obs.: não sou atleticano, mas são minhas observações.
    Abraços Fred

    Dimas

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